O Diretório estadual rejeitou a homologação por unanimidade, obrigando o senador a buscar outra legenda para evitar problemas com a possível federação União Progressista.
O diretório estadual dos Progressistas (PP) decidiu por unanimidade vetar a homologação da candidatura do senador Sergio Moro (União Brasil) ao governo do Paraná em 2026, acirrando tensões na construção da futura federação União Progressista (PP + União Brasil). A decisão, respaldada pelo presidente nacional da sigla, Ciro Nogueira (PI), sinaliza uma mudança estratégica: o PP não aceitará protagonizar uma aliança em que seja mero coadjuvante — muito menos repetir o arranjo de 2022, quando Moro venceu para o Senado apoiado em imagem nacional, mas sem raízes partidárias locais.
Segundo dirigentes paranaenses, o partido quer assumir hegemonia no campo conservador do estado, construindo um projeto próprio e não terceirizado a outsiders.
O deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) afirmou que o veto é resultado de sete meses de conversas infrutíferas com o União Brasil. Segundo ele, Moro teve amplas oportunidades de buscar apoio interno, mas não obteve adesão.
“Havia expectativa de acordo, mas isso não ocorreu. O senador conversou com todos, mas não conquistou apoio nas nossas fileiras. É o resultado de meses de diálogo que não prosperou”, disse Barros.
O PP compõe a base política do governador Ratinho Junior (PSD), que pretende lançar um nome próprio ao governo. Nesse cenário, o partido avalia que não há condições para uma chapa majoritária conjunta dentro da federação.
A decisão dos Progressistas também expressa um recado político direto:
o partido quer ser consultado, quer espaço real e está disposto a caminhar sozinho, se necessário.
Nos bastidores, vários nomes foram mencionados como alternativas viáveis dentro do campo conservador:
A movimentação mostra que o PP pretende disputar o centro da articulação política estadual — e não apenas referendar decisões externas.
Horas após a decisão, Sergio Moro classificou o veto como “arbitrário” e defendeu que política se faz com diálogo. Sinalizou ainda que sua candidatura será mantida pelo União Brasil, respaldado pelo presidente nacional do partido, Antonio Rueda.
“O Paraná merece a boa política. Nosso compromisso é com a boa gente do estado, não com interesses particulares”, escreveu Moro.
Com o veto, Moro fica impossibilitado de registrar sua candidatura ao governo pela federação. Para Ricardo Barros, o senador deve buscar outra legenda para viabilizar o projeto:
“Ele será candidato de qualquer forma. Vai procurar um partido que lhe garanta a legenda. Aqui, não há condições de homologação.”
Apesar de preocupações sobre impactos na federação União Progressista, Ciro Nogueira minimizou riscos e reafirmou respeito à decisão paranaense:
“Senador Moro é um grande nome. Mas jamais ficarei contra a decisão do diretório do Paraná.”
A decisão dos Progressistas de vetar a candidatura de Sergio Moro acontece no mesmo período em que o senador voltou ao centro de outra crise política e jurídica. Dias antes da reunião do diretório estadual, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou uma operação de busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos processos da Operação Lava Jato.
A medida foi cumprida pela Polícia Federal e está diretamente relacionada às denúncias feitas pelo ex-deputado estadual Tony Garcia, que afirma ter sido coagido, quando investigado no caso Banestado, a realizar gravações clandestinas a pedido de Moro.
Na decisão que autorizou a operação, Toffoli determinou atenção especial para uma “caixa amarela de arquivos”, apontada como o suposto repositório das gravações denunciadas por Garcia.
Segundo apuração da RPC, afiliada da TV Globo, essa caixa armazenaria cerca de 400 horas de diálogos gravados entre 2005 e 2021, guardados originalmente em disquetes.
De acordo com Tony Garcia, as conversas envolveriam autoridades, magistrados e governadores, todas registradas sem autorização judicial e vinculadas ao acordo de colaboração que ele firmou no fim de 2004, no âmbito do caso Banestado — investigação de evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Além da caixa amarela, a operação recolheu documentos e arquivos relacionados a 18 processos judiciais da 13ª Vara, todos datados entre 2005 e 2014.
A ação amplia o alcance das investigações sobre eventuais irregularidades cometidas no período em que Sergio Moro atuava como juiz responsável pelas ações da Lava Jato e ocorre em um momento politicamente sensível para o senador.