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Enfermeira Lourdes: 35 anos de profissão

Postada em: 20/05/2021 Atualizada em: 20/05/2021 08:25:58 Número de visualizações 2481 visualizações
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Enfermeira Lourdes: 35 anos de profissão

Para homenagear todas as pessoas que atuam na enfermagem, entrevistamos a missalense Lourdes Lori Mentzel Werner, que há quase 35 anos trabalha no Hospital Nossa Senhora de Fátima


No último dia 12 de maio foi comemorado o Dia Internacional da Enfermagem - dia do enfermeiro(a), e para marcar a data conversamos com a enfermeira Lourdes Lori Mentzel Werner, 53 anos, casada com Ernani Werner, três filhos (duas filhas e um filho) e duas netas. Ela iniciou seu trabalho no Hospital Nossa Senhora de Fátima de Missal em 1.986, “quando o hospital pertencia ao dr. Gilberto e a dra. Marli. O dr. Nilson era sócio deles”, lembra.


O início

Lourdes relata que quando iniciou não tinha curso nenhum. “Fui contratada como auxiliar. A dra. Marli me chamou para levar o currículo e fazer a entrevista, sendo que ao final desta já me contratou para trabalhar. Naquela época não precisava de curso na área de enfermagem, fui aprendendo com minhas colegas, e continuou assim por mais alguns anos: quem iniciava aprendia com quem já tinha prática. A gente fazia tudo, desde enfermagem até centro cirúrgico, além de ajudar em todos os setores em que havia necessidade, desde a recepção. Mais tarde fiz os cursos de auxiliar e técnico”.

Com relação aos equipamentos de trabalho, ela afirma que evoluíram imensamente, não dá nem para comparar. “Na verdade, na época não tínhamos equipamentos, apenas o básico, sendo que em procedimentos a gente usava luvas, em outras ‘situações mais simples’ não”.

Indagada se as luvas eram descartáveis, Lourdes explicou que apenas as que eram utilizadas em cirurgias eram novas, porém depois de usadas eram lavadas, secadas e colocadas em pacotinhos de pano (tecido) para serem esterilizadas em autoclave, e posteriormente reutilizadas no pronto socorro. “Estas luvas eram nosso único equipamento de proteção”.

Nessa mesma linha de reutilização também estavam as agulhas, que não eram descartáveis como hoje. “Em 1.986, as agulhas que eram utilizadas para coletar sangue, no laboratório do dr. Ademar, após a coleta ele trazia para nós, então a gente lavava e esterilizava para utilizar em aplicação de injeção nos pacientes. Não dá para comparar hoje com 35 anos atrás”.


Momento ‘complicado’

Lourdes lembra que à noite e finais de semana, durante o plantão apenas uma pessoa permanecia no hospital. “Durante um bom tempo trabalhei à noite, e quem estava de plantão atendia da recepção até o centro cirúrgico, pois o médico não costumava permanecer no hospital à noite, só vinha quando era chamado. Atendia e voltava para casa”.


E, numa dessas noites de plantão, Lourdes teve que fazer o primeiro parto da sua vida. “Eu tinha acompanhado alguns partos e as explicações do médico, mas sozinha nunca havia feito.  A gestante chegou e lá fui fazer parto, na sala só eu e a gestante - o médico somente era chamado se ocorresse alguma complicação ou o bebê demorasse para nascer. Consegui fazer tudo sozinha, correu tudo bem, tanto que no outro dia a mãe e o neném receberam alta médica. Sempre pedia muito a Deus para que nos protegesse, que corresse tudo bem, nossa...”, lembra Lourdes com grande carga de emoção, e continua comparando: “hoje os médicos fazem os partos, a gente só auxilia”.

“O que facilitava um pouco o trabalho, em especial à noite, é que nós (família) também ‘morávamos’ em uma casa nos fundos do hospital – era nossa segunda casa”, explica Lourdes.


Hoje

“Para nós da enfermagem e toda equipe de forma geral, está muito melhor, pois temos nossa carga horário, escala de trabalho/plantão programada, lá no início às vezes fazíamos 24 horas direto, folgava a cada 14 dias. Hoje também temos equipamentos, uma equipe completa, enfim, as melhores condições possíveis de trabalho”, afirma Lourdes. 


Covid-19

Lourdes também trabalha na linha de frente com relação ao atendimento a covid-19, porém para ela a situação não é a pior que já enfrentou. “Para mim não, pois enfrentamos outras fases difíceis, como a da meningite, muito parecida com a covid-19. Tínhamos que tratar os doentes, faltavam vagas nos hospitais; o tétano também fez vítimas fatais. Como disse, não haviam vagas, não havia central de leitos, e nós tínhamos que tratar os doentes aqui, sem as condições necessárias. Infelizmente era assim: fazíamos o que estava ao nosso alcance, e os que conseguiam se salvar se salvavam, os demais, infelizmente... Hoje, com a covid-19, a situação também é difícil, mas ainda se consegue vagas, diferentemente daquela época, quando perdíamos pacientes por falta de vagas”.

Mesmo tendo passado por esses momentos difíceis, ela afirma, de forma emocionada, a nova situação que a covid-19 trouxe para o seu trabalho após a implantação da ‘ala covid’ no hospital. “Enquanto nós só fazíamos o primeiro atendimento aos pacientes covid aqui de Missal era uma realidade, mas com a ‘ala covid’ com a UTI (Unidade de Terapia Intensiva), quando auxiliamos na intubação de pacientes a emoção toma conta, eles se despedem de familiares, mesmo de forma remota, não é fácil. A gente vendo na televisão parecia uma realidade, mas agora que vivemos essa realidade, acompanhamos no nosso dia a dia, tem momentos que choramos junto com os pacientes, em outros rimos com eles. A situação é difícil para eles, pois deixam os familiares, deixam tudo para trás, as vezes ficam 30 dias conosco, e nós passamos a ser a família deles. Quando eles recebem alta choramos de alegria com eles, e quando perdemos alguém choramos de tristeza com os familiares... nós nos apegamos a eles.”


“Gosto muito do que faço”

Mesmo aposentada, Lourdes continua trabalhando e garante que valeu a pena cada momento do seu trabalho. “Gosto muito do que faço. Sou da linha de frente, visto a camisa e luto pela melhora, pela vida de cada paciente, pois para mim cada um faz parte da minha família”.

Indagada se todos os pacientes reconhecem o trabalho, ela afirma que nem todos. “Infelizmente tem alguns pacientes, bem poucos na verdade, que não reconhecem nosso trabalho. Um que outro até humilha, xinga, achando que no hospital há apenas ele de paciente, como que ocorreu recentemente, quando terminou o soro de uma pessoa internada e nos chamou, porém minutos antes ocorreu uma emergência e nós estávamos atendendo esta situação, inclusive era uma criança, mas ela queria ser prioridade. Depois explicamos a situação e ela chegou a pedir desculpas. Nós entendemos estas situações, principalmente se for o paciente que xinga, pois ele está ali acamado, doente, nervoso, sofrendo, com dor, porém se for acompanhante daí dói mais. Felizmente os elogios e agradecimentos são muito, mas muito maiores, e nos animam a continuar, a trabalhar, a lutar pelas vidas humanas”.


Agradecimentos

“Agradecer, só tenho que agradecer pelos obstáculos que a gente passa, por algumas vezes não ser valorizados pelo que a gente faz. Agradecer ao dr. Nilson, como pessoa e como patrão há mais de 30 anos, ao dr. Luiz Gustavo, a Beti - diretora do hospital, que está nos dando muito apoio, toda equipe de enfermagem, que aliás é bem unida todos se ajudando - uma segunda família. Agradecer a Deus e a minha família que sempre me deu apoio, mesmo nos momentos difíceis, quando chegava em casa nervosa, estressada, angustiada, sempre me apoiaram para que seguisse em frente”, afirma Lourdes.

Ela conclui agradecendo, em nome de toda equipe, ao dr. Nilson e a Beti, que organizaram um jantar neste dia 12, Dia da Enfermagem.


Fonte: Portal Missal

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